19 de outubro de 2010

"Vamos a Fátima!"

Já toda a gente foi a Fátima e quem não foi tem com certeza alguém da família que já lá foi. Lamento piamente não me encontrar somente no segundo grupo de pessoas porque tenho a certeza que seria hoje muito mais feliz, mas mesmo que não tivesse colocado os pés naquele local inóspito a minha alma iria corromper-se de igual modo por vias travessas. É que o poder de Fátima é imenso, meus caros...

A minha relação com Fátima ficou apenas pela ideia durante os meu tenros anos de petiza, tempos esses que eu (ainda) não embarcava no Mini Austin castanho do meu pai para essa tradição familiar. Era um ritual preparado com extrema pr
ecisão porque nada podia falhar. Tenho perfeita noção que a nossa primeira ida ao Algarve, algures nos inícios dos anos 90, não foi preparada com tanta supervisão e entusiasmo. Primeiro dava-se a escolha do dia que não podia ser qualquer um. Era sempre um Domingo, isso é certo, mas não podia calhar nem a 13 de Maio nem 13 de Outubro por causa da confusão dos peregrinos e muito menos no mês de Agosto por causa dos emigrantes. Portanto tinha sempre que haver uma margem de segurança manobrável para não coincidir nessas datas. Depois, tinha que ser um dia de clima ameno, sem muito calor e sem chuva, preferencialmente nas épocas em que o sol era fraco mas também não muito doentio por causa das moleirinhas dos cachopos. Como é óbvio havia também sempre um farnel, mas era coisa fraca tenho que admitir, comparado com aquele que levávamos quando íamos para aldeia (prometo esmiuçar este assunto um dia destes). Levávamos alguns petiscos como o bolinho de bacalhau e o rissol, mais umas batatas fritas Pála-Pála, o Sumol e a Super Bock. “Só isso?!”, perguntam vocês. É verdade, esta era a única vez em que não se cumpria o regulamento do farnel português porque uma ida a Fátima tinha um bónus, toda a gente tinha direito a comer leitão na Bairrada.Era a cereja no topo do bolo!

Como já disse no inicio, eu só tive a oportunidade de integrar uma ida a Fátima já quando era mais velhinha, aí com os meus 12 anos, mas não quer dizer que a minha família não me tenha preparado previamente para tal. Se a Carlota não ia a Fátima, Fátima vinha até à Carlota! Então, enquanto o meu dia de ir a Fátima pela primeira vez não chegava eu era alvo daquilo que muitos de vós foram: as lembranças da Fátima. Ainda me lembro quando a minha bisavó, que ia a Fátima na carreira 2 vezes por ano, me trouxe a minha primeira lembrança do santuário. Era uma máquina fotográfica de plástico polipropileno em tons de amarelo, com uma fita que dava para pôr ao pescoço como os turistas
que a gente via na baixa. Era genial, pensava eu com os meus 4 anos, até que decidi “tirar” uma fotografia... Enfiei o olho na coisa e deu-se o milagre de Fátima diante dos meus olhos: Nossa Senhora envergava um manto branco enquanto levitava em cima de uma oliveira com 3 crianças ao redor. À medida que eu carregava no botão mais imagens da lenda surgiam e eu cada vez mais convicta de que a Nossa Senhora era uma farsa porque se ela fosse verdadeira seria só uma mas não, ela multiplicava-se na máquina de todos os meus primos...





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