29 de março de 2012

Quando não se dorme...

... fica-se assim, com uma cara de quem foi abalroada por um tsunami em plena costa asiática. Não durmo mais de 5 horas seguidas há mais de um mês e não vejo a coisa melhorar. O petiz que dormia a noitinha toda até às 10 da manhã já não mora lá em casa, emigrou. Agora temos um que dorme aos solavancos, às prestações e que acorda às 5 e 6 horas da madrugada como se fosse meio dia, pronto para borga, fora o choramingar de meia em meia hora que nos leva ao desespero...

Tudo isto não passam de vivacidades de se ser mãe, como tanto gostam de nos buzinar ao ouvido as vozes sapientes que já palmilharam caminhos semelhantes. Porque ser mãe implica ser-se privado não só de sono, mas de roupa lavada à conta das bolsadelas, de conversas sérias e maduras sem interrupções de gritinhos e choros, de refeições calmas sem ter que comer com os putos ao colo, e outras coisas mais.
Quando essas pessoas insistem em esfregar-me na cara essas verdades como se eu não as tivesse antevisto, dá-me coisas para lá dos espasmos e dos vómitos. É que aos olhos dessas pessoas que hoje têm filhos adultos e altamente equilibrados, eu sou uma aprendiz de mãe ainda, uma pupila desnorteada que anda ás apalpadelas por esse vasto mundo que é a maternidade e que corre o risco de, ao mínimo erro, criar um ser que no futuro poderá eventualmente revelar-se uma pessoa desequilibrada e com distúrbios emocionais.

Tenho para mim que essas pessoas são uma autêntica cabala, umas frustradas de merda que já passaram os mesmos horrores com os filhos, as noites sem dormir, a farpela nova com um rastro de leite coalhado dos ombros aos seios, todos os embaraços e birras em público e que essas mesmas pessoas, essas mulheres que emanam uma aura quase celeste, de pura aceitação das maleitas que a maternidade lhes trás, já praguejaram, já desejaram atirar os filhos pela janela, já choraram postergadas todas as suas frustrações e privações e se acharam as piores mães do mundo. É que, sabem, não há formulas mágicas nem grandes segredos, é mesmo assim. É o admitir que somos humanos e que as noites sem dormir nos afectam, que a falta de brio na casa nos incomoda, que as refeições à pressa nos deixam mal dispostas e com azia, que falta do sexo primoroso e ardente nos entristece, que os choros e gritos histéricos nos deixam para lá de loucas, e que a nossa vontade é muitas vezes afundar-nos num copo de vinho tinto e esquecer que somos mães por alguns segundos. Claro que depois olhamos para os olhos chorões e remelentos das nossas crias quando acordam a meio da noite e nos procuram, e que tudo passa e de repente somos invadidas pela melhor sensação do mundo que é ser mãe daquelas pestes e ficamos horas a lambe-los com um amor devoto e sincero.

Ser mãe também é isto, e admitir que não somos perfeitas.


5 comentários:

Jei disse...

e ponto final.
Nada mais a acrescentar.

Magui disse...

Não podia estar mais de acordo... Senhor meu filho também anda numa fase em que as noites são uma lotaria, se vem uma boa a seguir é uma semana má!
Mas eu mudei de tátita, quando essas mães perfeitas me perguntam se é calminho e se dorme a noite toda eu minto e digo que sim, afinal eu é que passo os dias a cair de sono que nem 1L de cafeína me salva, não lhes vou dar o gosto de ainda me virem com teorias...
Um beijinho grande e havemos de combinar e de os por juntos a conversar a meio da noite, assim sempre se entretinham um ao outro!

Anónimo disse...

concordo com tudo!!!!no meu caso , já dura há um ano.revejo-me inteiramente nas tuas palavras!dá vontade de bater em toda a gente.cambada de ignorantes...
bjs

Patrícia Silva

raquel disse...

Concordo, concordo e concordo.
Eu por vezes já dou por mim a mentir e a dizer que sim, que tenho um filho calmo e sereno (fazendo de mim a mãe perfeita!).
Beijinho para vocês*

dicuca disse...

Adorei este post... é exactamente isto que sinto... tal e qual!
Bjo

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